Demi esfregou os olhos. Bem delineados e de um tom de topazio imperial,
com cílios longos e espessos, eram olhos que qualquer mulher poderia
orgulhar-se... se não estivessem tomados pelo cansaço e pela sensação de
estarem cheios de areia.
Ela levantou a mão, seu pulso tão delgado, frágil, e afastou do rosto
uma mecha de cabelos que cascateavam até os ombros. Normalmente,
usava-os numa espécie de coque, mas Dan os tinha puxado pouco tempo
atrás quando ela lhe dera banho, e por isso Demi decidira deixá-los
soltos.
Amava tanto seu bebê! Ele significava tudo para ela, e faria qualquer
coisa para protegê-lo e mantê-lo seguro. Absolutamente qualquer coisa.
Ela lera a noite inteira. Trabalho de pesquisa de meio-expediente não
pagava muito bem... Certamente, não tão bem quanto seu emprego anterior,
onde trabalhara como pesquisadora para um romancista e roteirista. Tom
pagava um bom salário, e Demi se tornara amiga dele e da esposa.
O rosto de Demi anuviou-se. A iluminação no seu pequeno apartamento de um quarto não era adequada para seu trabalho.
Próximo ao seu trabalho, sobre o espaço exíguo da mesinha dobrável,
havia uma carta de seu meio-irmão entre a correspondência enviada ao seu
velho endereço. Ela tremeu e olhou por cima do ombro, quase como se
temesse que o próprio Liam pudesse de repente materializar-se.
Liam estava vivendo na casa que originalmente tinha pertencido ao pai dela, que deveria ter sido de Demi.
Ele lhe roubara a casa... assim como lhe roubara... ela hesitou, não querendo pensar no seu meio-irmão.
Mas algumas vezes tinha de pensar, para segurança de Dan . Seu
meio-irmão desaprovava o fato de Demi ter ficado com Daniel , em vez de
colocá-lo para adoção. Mas nada poderia fazê-la querer separar-se do
bebê... nem mesmo as tentativas de Liam de criar-lhe um sentimento de
culpa por conservá-lo. Ele havia insistido que outra pessoa, um casal,
daria a ele uma vida melhor do que ela poderia oferecer como mãe
solteira.
Liam podia ser muito convincente e persuasivo, quando queria. Ela
temera muito que ele pudesse receber o apoio de outras pessoas em defesa
de sua causa.
Algumas vezes, Demi sentia que jamais seria capaz de parar de temer Liam e suas tentativas de separá-la de seu filho.
Ela jamais teria lhe contado sobre a gravidez, mas Kate , a esposa do
autor para quem Demi trabalhara, tinha pensado que estava lhe fazendo um
favor ao escrever a ele e contar-lhe o ocorrido. Kate ficara excitada
quando Liam havia oferecido um lar a Demi depois que Dan nascesse, e
todo apoio que ela precisava.
Embora, Demi recusara a oferta. Conhecia o meio-irmão melhor do que
Kate, afinal de contas. Em vez disso, tinha permanecido no seu pequeno
apartamento, usando a desculpa que queria que Dan nascesse no hospital
local por causa de sua excelente reputação.
Liam não gostara de ser descartado e havia insistido em continuar
visitando Demi. Inicialmente, fingira concordar com sua decisão de
manter o bebê, mas aquela atitude desaparecera assim que ele soubera que
Nicholas Jonas não iria responder à exigência de Liam por apoio
financeiro para o filho .
Não que Liam tivesse dito qualquer coisa sobre isso para Kate e Tom, que haviam sido tão bondosos com ela.
No final, Demi sentira-se tão desesperada e tão pressionada que, temendo
que Liam encontrasse um meio de forçá-la a separar-se do bebê, algumas
semanas depois do nascimento de Dan, enquanto Liam estava na Escócia,
resolvendo os assuntos de um primo mais velho de seu pai que falecera
recentemente, ela havia decidido não renovar o aluguel de seu
apartamento e mudar-se para começar uma nova vida para ela e Dan.
Sem contar a ninguém o que estava fazendo, nem mesmo para Kate e Tom,
que tinham sido convencidos por Liam, Demi encontrara um apartamento
novo e um novo trabalho, então desaparecera, deixando instruções
estritas que seu próximo endereço deveria permanecer confidencial.
Tinha sido fácil esconder-se numa cidade grande como Londres.
Aquilo fora há cinco meses, mas ela ainda não se sentia segura, nem um pouco.
Sentia-se culpada por não ter dito nada a Kate e Tom, mas não se sentia
em condições de correr riscos. Eles não conheciam Liam, e não sabiam do
que ele era capaz. Ela tremeu novamente, lembrando-se do quanto ficara
infeliz logo que seus pais haviam se casado, e como tentara explicar à
mãe o quanto Liam a fazia se sentir apreensiva, sempre observando tudo
que ela fazia.
Ele estivera fora na ocasião, estudando em uma universidade, ele nos
seus 19 anos e ela nos 12 mas depois que seus pais se casaram Liam
decidira mudar o curso das coisas, morando na casa e viajando
diariamente para sua nova universidade.
Liam não gostava da melhor amiga dela, Selena, e a mãe de Demi havia
sugerido que seria melhor que Selena não freqüentasse mais a casa
deles, depois de um incidente durante o qual Liam quase tinha atropelado
Selena com o carro do pai, enquanto ela andava de bicicleta.
E agora Liam não gostava de Daniel . Demi tremeu novamente.
Ela nunca conhecera seu próprio pai. Um soldado, de uma longa linha de
militares do Exército, ele havia morrido numa emboscada no exterior
antes que Demi nascesse. Mas ela fora muito feliz com a mãe.
Seu pai os deixara em boa situação. Ele havia recebido uma herança da
família, e a mãe de Demi sempre dizia que um dia seria de Demi. Mas
agora era de Liam, porque a mãe deles morrera antes do segundo marido,
significando que a casa tinha passado para as mãos dele e, depois, para
as de Liam. A casa que deveria ser dela e de Dan lhes fora usurpada.
Ela olhou ansiosamente na direção do berço do filho. Dan estava
adormecido. Incapaz de resistir à tentação, Demi levantou-se e ficou
olhando para o bebê. Ele era tão bonito, tão perfeito que algumas vezes,
só de olhá-lo, ela transbordava de tanto amor que sentia, como se o
coração fosse arrebentar. Era um bebê calmo, saudável e feliz, e tão
maravilhoso! Com seus cachos escuros, sedosos, e brilhantes olhos
castanhos , com cílios negros espessos... que algumas pessoas paravam
para admirá-lo. Era inteligente também, e curioso com o mundo à sua
volta.
Eles o adoravam no berçário onde Demi tinha de levá-lo todos os dias da
semana antes de ir para seu outro trabalho, de faxina... o único que
conseguira sem que muitas perguntas fossem feitas. A maioria das outras
na equipe na agência de limpadoras na qual trabalhava era estrangeira...
trabalhando duro, mas relutante em conversar muito sobre si mesmas.
A atual vida de Demi era um mundo de distância do qual crescera e do futuro que esperava ter.
A infância de Dan, diferente da dela, não seria numa casa grande e
confortável, com seus enormes jardins, na pitoresca cidade de Dorset. A
área da cidade onde eles viviam era precária, com grandes quarteirões de
apartamentos, que antes ela teria ficado horrorizada só de pensar em
morar ali, mas agora agradecia ao anonimato proporcionado e aos seus
habitantes, que não faziam pergunta alguma.
Dan abriu os olhos e a fitou, dando-lhe um sorriso radiante. Demi
sentiu-se derreter. Ela o amava tanto! Que coisa extraordinária era o
amor de mãe, capacitando-a a amar seu filho a despeito dos problemas de
sua concepção.
Ela suspirou. Tentava não pensar sobre o que tinha acontecido em Cannes .
Felizmente, não possuía lembrança da terrível experiência em si, graças
à droga que havia sido despejada em sua bebida. Kate, que a encontrara
no quarto, ainda drogada e tonta, na manhã seguinte, depois da noite em
que fora violentada, queria que ela fosse à polícia, mas Demi se
recusara... chocada e temerosa demais, achava que eles não iriam
acreditar nela. Kate tinha sido maravilhosa! Demi sentia falta da
bondade e da amizade dela.
Como Liam, Kate havia sentido que o estuprador deveria, pelo menos, ser
forçado a dar apoio financeiro ao bebê, e fora Kate que revelara a Liam o
nome de Nicholas ... algo que a própria Demi se recusara a fazer.
Demi não ficou surpresa quando Nicholas se negou a fazer qualquer coisa,
e sentiu-se aliviada quando leu a respeito da morte dele nos jornais.
Agora, nunca mais haveria necessidade de Dan saber sobre seu pai, ou
como tinha sido concebido. A menos que Liam os descobrisse.
Ela se considerava um tipo de pessoa realista e lógica, consciente da
dura realidade da vida, mas algumas vezes, como aquela, quando se sentia
terrivelmente só, desejava que existissem coisas como fadas-madrinhas
que, com um movimento de sua varinha mágica, pudessem transportar Dan e
ela para um lugar onde estariam juntos e seguros, onde Liam simplesmente
não pudesse alcançá-los.
Se acreditasse em fadas-madrinhas, anjos da guarda, então esse seria seu desejo...
Mas é claro que não acreditava. E desejos não podiam se realizar somente porque alguém assim quer.
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PRIMEIRO CAPÍTULO \o/ UhUhUh E ai , tão gostando?
Eu espero que estejam gostando , porque pelo memos quando eu li esse livro eu AMEI !! li até 2 vezes kk
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