CAPÍTULO 5

SÓ MAIS UMA NOITE.

Ela não podia acreditar em como o vento se tornou forte. A areia dava a sensação de finas partículas de vidro cortando-lhe a pele.

Quando chegaram na segurança e proteção do galpão, os músculos de sua perna doíam do esforço de lutar contra a areia macia do solo.

Por dentro, o galpão era muito maior do que ela originalmente pensava. Uma área central estava mobiliada com ricos tapetes e sofás baixos. Sobre as mesas lindamente entalhadas, havia lampiões e velas.

Demi:  Sophia precisa comer alguma coisa e trocar de roupa —anunciou ela, friamente. — E depois quero ligar para o Beach Clube e contar-lhes o que aconteceu.

Joseph: Usar um telefone numa tempestade de areia dessas? —Ele riu abertamente. — Você teria sorte se conseguisse usar uma linha fixa, quanto mais um celular... Quanto à criança...

Demi: A criança! — repetiu ela, amargamente. — Mesmo sabendo a verdade, você ainda tenta se distanciar dela, não é? Bem, deixe-me lhe dizer uma coisa...

Joseph: Não, deixe que eu lhe diga uma coisa. Qualquer homem poderia ser o pai desta criança. Tenho pena dela por ter uma mãe de moral baixa, uma mulher disposta a se entregar para qualquer homem. Mas deixe-me esclarecer a você que não pretendo ser chantageado para pagar por um prazer que foi de tão pouco valor, muito menos pagar por uma criança que pode ou não ser o resultado disso.

Ela empalideceu de choque, mas antes que pudesse defender a irmã, Sophia começou a chorar seriamente.

Ignorando Adam, Demi tranquilizou-a, sussurrando carinhosamente:

Demi: Está tudo bem, minha querida. Sei que você está com fome — disse, beijando-a no rostinho. Aquele bebê era tão precioso para ela. Estar presente no parto a fez sentir que estava compartilhando um elo muito especial, e despertou-lhe uma necessidade maternal que previamente não sabia da existência.

Joseph: Não sei o que ela come, mas tem frutas e leite na geladeira, e um liquidificador — informou ele.

Geladeira? Liquidificador? Ela arregalou os olhos.

Demi: Você tem eletricidade aqui?

Ele lançou-lhe um olhar irônico.

 Joseph: Há um pequeno gerador que prove minhas necessidades.— Ele deu de ombros. — Afinal, vim aqui para trabalhar em paz, não para assistir tevê. O gerador pode proporcionar água quente para o banho dela, embora você, lamento, terá que compartilhar comigo a água da banheira.

Ele estava esperando que ela protestasse, Demi percebeu.

O homem estava gostando de torturá-la.

Demi: Já que só vou ficar aqui por uma noite, ouso dizer que recusarei esse prazer — replicou.

Joseph: Vou até seu carro buscar as coisas do bebê. A cozinha fica no final do corredor, à direita.

Ela levou alguns potinhos de papinha de bebê, mas não custava nada ver se havia algo fresco que pudesse preparar.

No final do corredor à direita havia uma cozinha pequena, mas muito bem equipada, e à esquerda, um banheiro imaculadamente limpo com um pequeno box e chuveiro.

Joseph: O que são todas essas coisas? — ela ouviu Adam indagando quando entrou com os braços carregados.

Em quaisquer outras circunstâncias, a óbvia falta de consciência masculina sobre as necessidades de um bebê teria sido compreensível, mas naquele momento...

Ignorando-o e ainda segurando Sophia, ela abriu a sacola na qual pos  as comidas.

Demi: Olhe isso, Soph — murmurou. — Pudim de banana, nosso favorito. Que gostoso!

O olhar de séria consideração de Sophia a fez sorrir, esquecendo-se da presença de Joseph.

Joseph: Suponho que eu não deva ficar surpreso por ela não estar recebendo a nutrição do leite materno — anunciou ele em tom de crítica.

Demi: A mãe dela teve que voltar a trabalhar, isso não foi possível.

Joseph: Você faz isso parecer virtuoso, mas uma mulher de boate é mesmo tão virtuosa?

Demi: Você é desprezível — exclamou ela. — Sophia não merece ser tratada assim. É um bebê inocente...

Joseph: Com certeza! Pelo menos concordamos em alguma coisa.Porém, é uma pena que você não tenha pensado nisso antes de vir aqui fazer acusações e exigências.

Como ele podia ser tão frio? Tão insensível? De acordo com o pouco que Dallas falou, ele era um homem emotivo e apaixonado.

Sem dúvida na cama era, pensou. E o rosto queimou de repente, quando reconheceu o significado indesejado de seus pensamentos, e pior ainda, as imagens que estavam se formando em sua mente...

O que estava acontecendo com ela? Era uma mulher de sangue frio, equilibrada, que racionalizava e resistia a qualquer tipo de comportamento exigente de si mesma. Entretanto lá estava ela...

Demi: Quanto tempo vai durar a tempestade de areia? — indagou de imediato.

As sobrancelhas escuras se levantaram.

Joseph: Um dia, dois... três...

Demi: Três? — Demetria estava pasma. Além do fato de que Dallas enlouqueceria se não pudesse entrar em contato, o que o príncipe iria pensar se retornasse e ela não estivesse lá? —Tenho que alimentar e trocar Sophia.

Felizmente levou a banheira do bebê consigo, assim como o trocador,e o carrinho, porque não sabia exatamente quais facilidades estariam disponíveis no oásis.

Joseph:  Já que é óbvio que terá de passar a noite, é melhor que você e a criança durmam no meu... no quarto — Adam se corrigiu.

A boca dela secou.

Demi: E... onde você vai dormir? — perguntou ela, apreensiva.

Joseph: Aqui, é claro. Depois que você cuidar da criança, nós dois podemos comer alguma coisa. E então...

Demi: Obrigada, mas sou perfeitamente capaz de decidir por mim mesma o que vou fazer quando comer — replicou ela de modo agressivo.

Ela era muito mais independente e fogosa do que ele imaginava, pensou Joe quando Demi desapareceu com Sophia.

E definitivamente não era o tipo requerido para o seu primo mais novo.

 Ficou furioso quando Nick lhe telefonou para anunciar que se apaixonou e estava pensando em se casar com uma garota que conheceu numa boate duvidosa.

Nick já estive apaixonado antes, mas aquela foi a primeira vez que falou em se casar. Com vinte e quatro anos, ele era ainda muito imaturo. Quando se casasse, na opinião de Joe, teria que ser com uma mulher forte o bastante para manter-lhe os pés no chão, e rica o suficiente para não se casar com ele por dinheiro.

Joe franziu o cenho. Foi sua avó francesa que o avisou quando ele ainda era adolescente, que a grande fortuna que herdou do pai o faria um alvo para mulheres gananciosas.

Então ela insistiu que ele passasse um tempo na França, conhecendo as sofisticadas filhas de parentes distantes, garotas que, na opinião dela, mereciam herdar o "trono".

As moças eram bem-nascidas e criadas, mas ele encontrava-se cada vez menos enamorado da idéia de um casamento arranjado.

Por essa razão, decidiu que seria Nick a herdar o trono e seu lugar como líder daquele povo historicamente único. Mas não teve nenhuma pressa em apoiar o primo na direção de uma noiva adequada, até que aquela mulher impossível aparecesse em seu retiro particular.

Ele não sabia qual dos dois o enfureceu mais! Se Nick por sua fraqueza em desaparecer sem deixar nenhuma indicação de onde foi, ou se a mulher que apareceu ali, depois de chantageá-lo através de uma carta, dizendo que apareceria junto com o bebê, determinada a declarar que seu primo era o pai.

Fisicamente ele não pode ver nenhuma semelhança da criança com Nick. Ela era morena como a mãe e tão delicadamente feminina quanto ela. A única diferença era que, enquanto a mãe dela escolhia usar lentes de contato cor mel  turquesa, sim, porque o tom de mel só podia ser falso, os olhos do bebê eram de um preto lindo.

Como os de Nick.

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